Atletismo: Michele Costa, de 17 anos, mira os Jogos de Tóquio 2020

Sábado, 21/01/2017 - 06:15
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Quando a diretora da Escola Municipal JK, no bairro Varginha, entrou na sala de aula, em 2013, perguntou quem se interessaria em participar de uma corrida e viu pelo menos um braço levantado, jamais poderia prever que ali estava uma futura atleta. Revelada pela Associação de Corredores Friburguenses (Ascof), Michele Costa teve o potencial rapidamente reconhecido pelo Vasco da Gama. A jovem promissora, que completa 18 anos apenas no mês de agosto, aos poucos se torna realidade. Neste sábado, 21, a friburguense participa do Cross Country no Cefan, no Rio de Janeiro, representando exatamente o cruzmaltino. 

“Será uma grande oportunidade da carreira desta jovem friburguense. Ela está muito focada, há pelo menos um mês na rotina intensa de treinamentos. Não teve nem Natal perto da família”, conta o treinador José Roberto Pantaleão. 

O experiente técnico de atletismo é o responsável por guiar Michele no Vasco. Já federada pela equipe carioca, ela terá a primeira de algumas oportunidades para tentar a classificação para o Sul-Americano da modalidade. Além disso, poderá carimbar o passaporte para o Campeonato Brasileiro, que acontece na cidade paulista de Bragança Paulista.

“Agradeço a Deus por ter colocado essa pessoa maravilhosa na minha vida. Um treinador que enxerga o certo e o errado. O treinamento rígido e as broncas me fazem perceber que sou capaz de ir além, de melhorar mais um pouco a cada dia. Dá aquela vontade de chorar na hora da bronca, mas eu sei que é para o meu bem. Só posso agradecer por me dizer a verdade em todos os momentos. Agora é minha hora, de mostrar que sou capaz e que todo o treinamento valeu a pena. Meu sonho está se tornando realidade, sempre procurando ver onde eu devo melhorar. Em um mês eu evoluí muito. Imagina em um ano?”, escreveu Michele em sua conta de uma rede social, agradecendo ao treinador e deixando transparecer facilmente o jeitinho de quem ainda é apenas uma menina. 

O processo de adaptação à rotina ainda está em andamento, mas de acordo com Pantaleão a evolução é bastante visível. Os treinos são diários e em período integral (manhã e tarde), com apenas um dia de folga. Michele também realiza um trabalho de perda de massa corporal e ganho de força. Desde que chegou ao Vasco ela já perdeu três quilos, ganhou força e teve a musculatura reforçada. Tudo isso requer uma dieta bastante rígida e regrada, com bastante fibras, frutas, legumes, proteínas e cereais. Há também o cuidado com o descanso: Michele dorme, diariamente, antes das 22h, acorda às 6h e descansa por duas horas no período da tarde.

“A Michele paga o preço, mas está colaborando muito bem. Desde que ela chegou aqui os treinos são bem diferentes em relação ao que ela fazia. Fizemos um trabalho de perda de massa corporal, mas ao mesmo tempo com a preocupação de ganhar força. Ela chegou aqui fora do padrão, mas a vontade dela fez com que em um mês houvesse bastante evolução. Ela se adaptou ao ritmo dos outros atletas de alto rendimento”, conta o treinador, que aproveita para “puxar a orelha” da atleta. “Não dá nem tempo para pensar em namorar. Aqui tem que ter alto rendimento, se não vai embora. E o celular tem hora”, brinca em tom descontraído. “A evolução dela é bastante visível em pouco tempo”, diz Pantaleão. 

O discurso casa perfeitamente com a prática. Hoje Michele é titular do time juvenil do Vasco da Gama, entre os atletas de primeiro ano de clube. O potencial da jovem faz o cruzmaltino pensar adiante, inclusive preparando um projeto para buscar vaga nas próximas Olimpíadas daqui a três anos e meio. “Ela já está na reserva do nosso projeto de 2020”, revela o técnico.

De Varginha ao Vasco

Foi em 2013 que Michele teve a sensação de cruzar a linha de chegada de uma prova pela primeira vez. A satisfação se transformou em objetivo. Naquele momento, a menina de apenas 15 anos percebeu que o prazer das passadas no asfalto poderia se transformar em algo profissional. “Certo dia a diretoria da minha escola entrou na sala de aula e perguntou quem queria participar de uma corrida. Comecei a treinar para correr pelo colégio e participei da competição no Friburguense”, recorda-se ela. 

Michele representou a Escola JK e logo conseguiu um resultado expressivo. O terceiro lugar na prova rendeu mais que apenas uma nova experiência em sua vida. Ao observar o talento da jovem, o professor Augusto Theodoro a convidou para integrar a equipe da Associação de Corredores Friburguenses (Ascof). Apaixonada por esportes, já havia tentado algo na ginástica, mas foi com a corrida que mais se identificou e a maior prova é a dedicação.

Apesar do pouco tempo de treinos e participações em eventos, Michele Castro já trilhava um caminho de relativo sucesso no atletismo desde o início. Terceira colocada na Corrida Garoto, onde participam mais de mil atletas, no Espírito Santo, ela venceu uma etapa do Circuito Ostras e outra do Projeto Rio Interior em Teresópolis. Também foi vitoriosa em Cachoeiras de Macacu e terceira colocada em corrida no bairro São Geraldo e no município de Macuco. Tudo isso já no primeiro ano de competições.

Michele lutou ainda para superar as dificuldades comuns aos desportistas do país. A principal delas é a falta de apoio. As viagens e os materiais custavam caro, e para não desistir do sonho ela contou com o apoio de algumas pessoas e o sacrifício da família e amigos. Os resultados começam a aparecer. Na mesma velocidade em que a jovem friburguense começa a despontar nas pistas do país.




Fonte: A Voz da Serra