De 42 jogadores formados em times da Série A que atuam na Liga dos Campeões, 2 são ex-Vasco
Sexta-feira, 21/09/2018 - 22:28
Muito se fala, inclusive aqui no blog, que o trabalho de formação nos clubes grandes brasileiros é melhor do que há dez anos e vem crescendo. O que é uma verdade. Por outro lado, porém, é possível perceber, com o levantamento feito em relação aos jogadores brasileiros que atuam na Liga dos Campeões, que atualmente se vive em uma bolha por aqui. A concentração de jogadores nascidos em poucos estados e formados em poucas equipes é um indicativo preocupante.

Os números atestam uma imensa superioridade paulista na "fatia do bolo. Dos 71 atletas, 28 nasceram no estado de São Paulo, o que corresponde a 39,4% do total.Se levarmos em conta que se trata de um estado com cerca de 22% da população brasileira (45,5 milhões, segundo o IBGE), a diferença de proporção se configura bem claramente.

O Rio de Janeiro é o segundo estado brasileiro com mais atletas nascidos que atuam na Liga dos Campeões. São, ao todo, 10, o que representa 14% do total. Ou seja: 53,4% dos brasileiros da Liga dos Campeões nasceram no eixo Rio-São Paulo, que concentra "apenas" 30,2% da população brasileira.

Minas Gerais, com cerca de 21 milhões de habitantes, tem 10,2% da população brasileira e sete atletas nascidos no estado atuando na Liga dos Campeões. Uma proporção mais fidedigna. A Bahia, quarto estado mais populoso, tem apenas 3 atletas, menos de 5% do total e menos que Paraná (5) e Rio Grande do Sul (4), estados com população menor.

No total, 57 dos 71 atletas brasileiros nasceram nos seis maiores estados do país, o que representa 80,2% do total. Sendo que esses estados somam, juntos, 58,8% da população brasileira.

As outras bolhas: os times grandes

A concentração de bases formadoras no futebol brasileiro não se resume a estados natais dos jogadores. Ao todo, 42 dos 71 atletas brasileiros no torneio foram revelados por times da Série A. Totaliza 59,1%. Se somarmos com dois nomes revelados no Barcelona (Thiago Alcântara e Rafinha) e Rodrigo, cria da base do Real Madrid, a conta chega a 45 jogadores.

Dos 42 da Série A, 15 foram revelados em times paulistas (5 no São Paulo, 4 no Corinthians, 4 no Santos e 2 no Palmeiras) e apenas oito em times cariocas (4 no Fluminense, 2 no Vasco e 2 no Flamengo). Outros oito são revelados em times gaúchos (5 no Internacional e 3 no Grêmio e apenas três revelados em times mineiros (um no Cruzeiro, um no Atlético-MG e um no América-MG). Outros quatro surgiram no Atlético-PR. Restam apenas quatro crias da base nordestina: duas do Bahia, um do Vitória e um do Sport.

Sobram 29 jogadores, sendo seis de equipes de fora, e 23 daqui. Dessas, 13 foram revelados em clubes da Série B atual, sendo o Coritiba o maior revelador, com quatro nomes. Sobram dez, sendo cinco revelados em equipes paulistas, que somam 23 ao todo, contra 15 revelados em times cariocas.

Causas e consequências dessa bolha

As causas dessa bolha de poucos clubes reveladores são bem claras aos olhos de quem acompanha a base: os grandes têm mais estrutura e captam des de cedo os melhores jogadores, de acordo com a avaliação deles. Numa inversão da ótica, em um universo no qual dez jogadores de Liga dos Campeões ainda passam despercebidos na base, resta aos grandes ainda um desafio na busca de observarem melhor seus talentos.

Por outro lado, uma possível consequência desse cenário é o sucateamento total dos pequenos, já pouco estruturados. Algum tipo de compensação além da Lei Pelé precisa ser estudado para equipes que priorizam esse trabalho e prestam, com isso, um bom serviço ao futebol brasileiro, principalmente em uma região claramente sub-aproveitada, como o Nordeste. Longe de apontar soluções no momento, o blog traz a discussão mostrando um cenário preocupante de um país no qual sobram bons jogadores, mas que também desperdiça talentos no ralo diariamente por total falta de estrutura. Será possível resolver, ao menos dentro do campo, uma contradição que também se mostra grande no aspecto social? Fica a pergunta.

Fonte: Blog Na Base da Bola - GloboEsporte.com