VASCO, 1º CAMPEÃO CARIOCA DO MARACANÃ
Este ano de 2000, último ano do século XX e do segundo milênio,
marca também o qüinquagésimo aniversário do
Estádio Mário Filho, popularmente - e mundialmente - conhecido
como Maracanã.
A história
do Maracanã é bem conhecida pela maioria dos brasileiros.
O Brasil teve o privilégio de sediar a primeira Copa do Mundo do
pós-guerra e o ponto alto dessa organização foi a
construção de um estádio novo, gigantesco, pois o
Pacaembu e o estádio de São Januário já não
acomodavam a massa cada vez maior de apaixonados pelo futebol.
O Maracanã
foi inaugurado em 16 de junho de 1950, com capacidade para 200 mil espectadores.
Foi palco de cinco dos seis jogos da Seleção Brasileira
na Copa do Mundo, incluindo a final do dia 16 de julho. Precisando apenas
do empate, o Brasil perdeu por 2 a 1 para o Uruguai e terminou como vice-campeão,
gerando uma onda de frustração por todo o país.
Passado o
choque inicial, era chegada a hora de utilizar o Maracanã para
o Campeonato Carioca. O Vasco era o atual campeão da competição
e, ainda por cima, invicto. O Expresso da Vitória esteve no auge
de sua forma em 1949 e havia conquistado 18 vitórias e 84 gols
em 20 jogos, numa campanha que até hoje detém o recorde
de ter sido a melhor de toda a história do profissionalismo carioca.
Mas em 1950
os jogadores vascaínos estavam abatidos. Também, pudera:
nada menos do que oito jogadores (Barbosa, Augusto, Danilo, Eli, Ademir,
Chico, Maneca e Alfredo II) e mais o treinador (Flávio Costa) haviam
tomado parte na delegação brasileira derrotada em casa pelo
Uruguai na Copa do Mundo.
Grande parte
da imprensa, que já naquela época não gostava muito
do Vasco, aproveitou para explorar ao máximo o trauma da perda
da Copa a fim de prejudicar a equipe cruzmaltima. E quase conseguiu seu
objetivo. O Vasco realmente teve um começo irregular e, só
no primeiro turno, sofreu 3 derrotas (América, Fluminense e Botafogo),
fato raro para um time reconhecidamente superior a todos os outros.
À
medida que a tristeza pela perda da Copa foi passando, o Vasco foi ganhando
mais e mais confiança e voltou a ser o velho "Expresso"
de outros tempos, goleando, no segundo turno, o Flamengo por 4 a 1 (e
mantendo um tabu de 6 anos sem derrotas para o rival) e o Fluminense por
4 a 0.
Só
que, mesmo tendo vencido todos os jogos do segundo turno, o Vasco só
conseguiu alcançar a liderança na penúltima rodada,
após derrotar o Botafogo por 2 a 0. O Vasco ficou então
um ponto à frente do América: 32 a 31. E, como a tabela
marcava para a última rodada o jogo Vasco x América, uma
vitória rubra poderia pôr a perder a brilhante recuperação
da equipe vascaína.
E foi nesta
situação que pisaram o gramado do Maracanã no dia
28 de janeiro de 1951 (por causa da Copa do Mundo, o Campeonato Carioca
começou atrasado e só pôde ser concluído no
ano seguinte) C.R. Vasco da Gama e América F.C.: ao América,
só a vitória interessava para que conquistasse o seu sétimo
título carioca; e o Vasco, com um simples empate conquistaria o
nono título carioca de sua história, o quarto em seis anos.
Mais de 100
mil pessoas foram ao Maracanã (na época, chamado apenas
de "Estádio Municipal") naquele domingo, para acompanhar
esta verdadeira decisão. O América tinha um ataque perigoso,
conhecido como "tico-tico no fubá". Outro ingrediente
da decisão era um confronto entre dois irmãos: Eli do Amparo,
do Vasco, e Osni do Amparo, do América.
O Vasco começou
melhor e saiu na frente logo aos 4 minutos, com um gol de Ademir Menezes.
O América empatou aos 40 minutos, por intermédio de Maneco.
O primeiro tempo terminou com um empate em 1 a 1.
Foi no vestiário
do Vasco, durante o intervalo, que ocorreu o fato que decidiu o campeonato.
Ipojucan, atacante do Vasco, não se sabe por que motivo, estava
reclamando de falta de ar e não queria de maneira alguma voltar
para a etapa final. O técnico Flávio Costa, que conhecia
muito bem seus jogadores, achou que o vascaíno estava fazendo corpo
mole e mandou-o de volta a campo debaixo de tapas.
Anos depois,
Flávio Costa explicou em uma entrevista como tudo aconteceu: "Eu
levantei o Ipojucan no peito e dei-lhe duas bofetadas. Mas não
foram bofetadas de agressão, não. Foram terapêuticas.
E ele se apavorou e saiu correndo. Eu atrás dele: "Você
vai entrar de qualquer maneira!"."
A tática
do comandante do Expresso da Vitória funcionou parcialmente. Se,
por um lado, Ipojucan não jogou nada no segundo tempo, limitando-se
a fazer número na ponta-direita, por outro lado foi dele o passe
que resultou no gol da vitória do Vasco, de Ademir Menezes, aos
29 minutos.
Ainda aconteceu,
no campo, uma briga que resultou com a expulsão de dois jogadores
de cada time pelo árbitro Carlos de Oliveira Monteiro (conhecido
como "Tijolo"), aos 43 minutos: Eli, Laerte (Vasco), Osmar e
Godofredo (América).
A torcida
do Vasco, no entanto, pouco ligou para a briga, pois já estava
comemorando o título e homenageando Ademir Menezes (artilheiro
do Carioca com 25 gols) com uma paródia de uma música do
Carnaval de 1951:
"Oi
zum-zum-zum zum-zum-zum-zum/ Vasco dois a um/ Ademir pegou a bola/ e desapareceu/
foi mais um campeonato/ que o Vasco venceu..."
JOGOS
DO VASCO
Data |
Loc |
Jogo |
Gols
do Vasco |
20/08/1950 |
SJ |
Vasco |
6
x 0 |
São Cristóvão |
Maneca (2), Ipojucan (2), Ademir,
Lima |
27/08/1950
|
M |
Vasco |
3
x 2 |
Bangu |
Ademir (2), Tesourinha |
03/09/1950 |
SJ |
Vasco |
2
x 3 |
América |
Maneca, Ademir |
10/09/1950 |
F |
Vasco |
4
x 0 |
Bonsucesso |
Ademir (3), Maneca |
17/09/1950 |
M |
Vasco |
3
x 1 |
Olaria |
Ipojucan (2), Lima |
24/09/1950 |
M |
Vasco |
2 x 1 |
Flamengo |
Ademir, Alfredo II |
01/10/1950 |
M |
Vasco |
1
x 2 |
Fluminense |
Ipojucan |
08/10/1950 |
M |
Vasco |
0
x 1 |
Botafogo |
- |
15/10/1950 |
SJ |
Vasco |
9
x 1 |
Madureira |
Dejair (4), Ademir (2), Álvaro
(2), Maneca |
22/10/1950 |
SJ |
Vasco |
7
x 0 |
Canto do Rio |
Ademir (2), Dejair (2), Jansen,
Maneca, Tesourinha |
29/10/1950 |
F |
Vasco |
5
x 1 |
São Cristóvão |
Dejair (3), Ademir, Tesourinha |
05/11/1950 |
F |
Vasco |
3 x 2 |
Madureira |
Ademir (2), Dejair |
19/11/1950 |
SJ |
Vasco |
4
x 0 |
Olaria |
Ademir (3), Alfredo II |
26/11/1950 |
M |
Vasco |
4
x 1 |
Flamengo |
Ipojucan (3), Alfredo II |
10/12/1950 |
SJ |
Vasco |
7
x 2 |
Bomsucesso |
Ademir (3), Dejair (3), Maneca |
17/12/1950 |
F |
Vasco |
4
x 2 |
Canto do Rio |
Maneca (4) |
31/12/1950 |
M |
Vasco |
2
x 1 |
Bangu |
Ipojucan, Maneca |
06/01/1951 |
M |
Vasco |
4 x 0 |
Fluminense |
Ipojucan (3), Ademir |
14/01/1951 |
M |
Vasco |
2
x 0 |
Botafogo |
Maneca, Ademir |
28/01/1951 |
M |
Vasco |
2
x 1 |
América |
Ademir (2) |
Obs.: SJ=São Januário,
M=Maracanã; F=Fora.
CAMPANHA
PG |
J |
V |
E |
D |
GP |
GC |
SG |
% |
34 |
20 |
17 |
0 |
3 |
74 |
21 |
+53 |
85,00 |
ARTILHARIA
Jogador |
Gols |
Ademir |
25 |
Dejair |
13 |
Maneca |
13 |
Ipojucan |
12 |
Alfredo
II |
3 |
Tesourinha |
3 |
Álvaro |
2 |
Lima |
2 |
Jansen |
1 |
JOGO DECISIVO
AMÉRICA |
|
1 |
X |
2 |
|
VASCO |
|
Data:
28.01.1951 (Domingo). |
Competição:
Campeonato Carioca (2º Turno - 10ª Rodada). |
Estádio:
Maracanã, no Rio de Janeiro (RJ). |
Árbitro:
Carlos de Oliveira Monteiro ("Tijolo") (RJ). |
Público:
104.067 pagantes. Renda: Cr$ 1.577.014,00. |
AMÉRICA:
Osni, Joel e Osmar; Rubens, Osvaldinho e Godofredo; Natalino, Maneco,
Dimas, Ranulfo e Jorginho. Técnico: Délio Neves. |
VASCO:
Barbosa, Augusto e Laerte; Eli, Danilo e Jorge; Alfredo, Ademir, Ipojucan,
Maneca e Dejair. Técnico: Flávio Costa. |
Gols:
Ademir 4' do 1º - Vasco 1 a 0.
Maneco 40' do 1º - 1 a 1.
Ademir (passe de Ipojucan) 29' do 2º - Vasco 2 a 1. |
Expulsões:
Osmar e Godofredo (América); Eli e Laerte (Vasco).
|
|