Quando o Vasco foi fundado, a escolha do nome do clube foi muito debatida. Só escapamos de torcer pelo C. R. Álvares Cabral ou pelo C. R. Santa Cruz porque no ano da fundação comemorava-se o quarto centenário do descobrimento do caminho marítimo para as Índias pelo navegador Vasco da Gama. Por isso somos vascaínos, e não cabralinos ou santacruzenses.
Torcedores vascaínos foram pioneiros na prática do que, no jargão esportivo, ficou conhecido como "bicho". Na primeira participação do Vasco na Série A da Liga Metropolitana, em 1923, os torcedores começaram a se quotizar para ajudar seus craques, pagando-lhes prêmios em dinheiro por vitória ou empate. Afinal, nada mais justo, pois os vascaínos viviam ganhando apostas com torcedores rivais a cada semana. O valor do prêmio dependia de fatores como a qualidade do adversário e a importância do jogo, além do resultado, e era anunciado segundo uma senha inspirada no jogo do bicho: Um cachorro (número 5 no jogo do bicho) significava um prêmio de 5 mil réis; um coelho, 10 mil; e assim por diante, até chegar na vaca, que podia ter de uma a quatro pernas, ou seja, 25 a 100 mil réis. Cogitou-se, inclusive, que daí tenha-se originado a gíria "fazer uma vaquinha". Porém a expressão já existia, sendo utilizada por apostadores de corridas de cavalos desde pelo menos o final do século XIX, conforme consta em seções de turfe dos jornais da época.
Segundo uma outra versão, torcedores premiavam os jogadores com galinhas, patos ou leitões. Esta versão não parece ser confiável, mas fica aqui o registro.
Quando foi disputado o primeiro encontro internacional pelo Vasco da Gama?
Você sabe?
Não se preocupe, poucos sabem. Até mesmo os registros do clube apontam incorretamente o encontro Vasco x Wanderers, do Uruguai, realizado em 1928, para a inauguração dos refletores do Estádio de São Januário, como a primeira partida internacional. Mas a verdadeira estreia do Vasco contra uma equipe estrangeira deu-se alguns anos antes.
Nos fins de outubro de 1923, chegou ao Rio de Janeiro a equipe do Combinado Universal F.C., de Montevidéu, que disputou várias partidas no Rio de Janeiro e inaugurou o estádio do Americano de Campos.
No dia 2 de dezembro de 1923, no estádio do Fluminense, nas Laranjeiras, o Vasco enfrentou o time de reservas da equipe uruguaia, na preliminar do jogo entre a equipe principal do Combinado Universal e um combinado Flamengo-Paulistano. O jogo terminou com o empate de 1 x 1. A equipe do Vasco jogou com a seguinte constituição: Amaral, Mingote e Hespanhol; Artur, Floriano e Miranda; Adão, Russo, Pires, Badu e Godói. O gol vascaíno foi marcado por Russo (Felizardo Gonçalves - não confundir com Moacir Siqueira de Queiroz, o Russinho). O árbitro foi o Sr. Brás de Oliveira Filho (Babica), do Carioca F.C.
Vascaínos! Ao Vasco, nada?
Tudo!
Então como é que é que é que é?
CASACA
CASACA
CASACA ZACA ZACA!
A TURMA
É BOA
É MESMO DA FUZARCA!
VASCO, VASCO, VASCO!
Este grito de guerra já foi lançado milhares de vezes pela imensa torcida cruzmaltina, celebrando grandes conquistas na terra e no mar. Uma tradição que originou-se na década de 1920, e que é mantida até hoje. Tudo começou quando os remadores e outros sócios do clube se reuniam na garagem de barcos para comemorar vitórias nas regatas. Invariavelmente, comparecia a estes eventos uma certa Turma da Fuzarca, que, como seu nome sugere, animava a festa. O hoje famoso grito de Casaca, que surgiu como expressão da confraternização entre os remadores e e a Turma da Fuzarca, passou a ser associado às conquistas vascaínas no remo e, posteriormente, disseminou-se às outras modalidades esportivas.
O primeiro grande esquadrão que o Vasco formou foi, sem dúvida, aquele que conquistou brilhantemente o campeonato carioca de 1929, numa melhor-de-três contra o América que entrou para a história. A escalação do time caiu na boca do povo: Jaguaré; Brilhante e Itália; Tinoco, Fausto e Mola; Paschoal, Oitenta-e-Quatro, Russinho, Mário Mattos e Santana. A este respeito, uma estória deliciosa foi enviada pelo Sr. Maurício Wanderley:
"Nesta época tinha 9 anos e já torcia para o Vasco. O time era este mesmo. E é sobre isto que gostaria de levar ao seu conhecimento - talvez você não saiba. Nós, meninos da época, discutindo com outros colegas sobre futebol, times, torcidas, etc., fazíamos o seguinte comentário (que fazia qualquer um calar a boca) e que os outros meninos não podiam comentar coisa alguma depois de ouvir:
JAGUARÉ foi na ITÁLIA comprar BRILHANTE. Assistiu com TINOCO a ópera FAUSTO, sentado numa cadeira de MOLA. Na volta, PASCHOAL encontrou OITENTA E QUATRO RUSSINHOS junto com MÁRIO MATTOS na Igreja de SANTANA."
Em 1930, uma companhia de cigarros, chamada Grande Manufactora de Fumos Veado, instituiu o "Concurso Monroe", destinado a eleger o melhor jogador do Brasil, mediante votação popular. O grande vencedor foi o artilheiro vascaíno Russinho, que recebeu quase três milhões de votos, numa demonstração não apenas do seu enorme prestígio e popularidade, como também da força que a torcida do Vasco já possuia naquela época.
Como prêmio, foi entregue ao craque um luxuoso carro esporte conversível da marca Chrysler, novinho em folha (chamado, na época, de "barata"). A solenidade foi realizada num domingo, dia 15 de junho de 1930, em São Januário, que acolheu um grande público para homenagear o seu ídolo e vê-lo desfilar ao volante do seu reluzente automóvel.
Clique na imagem ao lado para ver a reportagem completa, com fotos, publicada pela revista O Malho, edição nº 1449, de 21 de junho de 1930.
No ano seguinte, o compositor Noel Rosa citou Russinho e a "barata" no samba Quem Dá Mais.
Talvez a primeira exploração da imagem de um jogador de futebol para marketing no Brasil tenha sido a contratação do atacante gaúcho Luiz Carvalho pelo Vasco em 1935. Produtores de vinho do Rio Grande do Sul pretendiam aumentar o volume de vendas no Rio de Janeiro, onde competiam com o vinho importado, num mercado formado substancialmente pela colônia portuguesa. Como a esmagadora maioria dos portugueses eram vascaínos, raciocinaram os gaúchos que a melhor maneira de alcançar o seu objetivo seria comprar o emérito artilheiro do Grêmio e oferecê-lo de graça e com salários pagos ao Vasco, onde ele certamente continuaria a marcar gols e os ajudaria a vender o seu produto. E assim, por quase dois anos, Luiz Carvalho - habitualmente chamado de Luiz de Carvalho pela imprensa esportiva carioca - marcou vários gols pelo Vasco, oito deles durante a conquista do campeonato de 1936, e na medida que ia marcando seus gols, ia vendendo muitos barris de vinho, principalmente para os portugueses. Cumprida a sua missão, o artilheiro voltou ao Grêmio, onde encerrou sua carreira, inclusive tornando-se mais tarde presidente do clube gaúcho, em 1974.
A primeira camisa de futebol usada pelo Vasco era toda preta, com gola e punhos brancos, e a cruz de malta no peito. Muita especulação existe sobre a origem da camisa branca com a faixa diagonal preta. Segundo uma versão atualmente difundida, inclusive, no site oficial do Vasco, ela teria sido criada por Ondino Viera, o técnico uruguaio que montou o famoso Expresso da Vitória quando dirigiu o Vasco entre 1943 e 1946. Ondino teria se inspirado na camisa do River Plate, clube onde ele começou a se destacar como treinador e com o qual foi bi-campeão argentino em 1936/37. Ainda acrescenta-se, às vezes, o detalhe de que Ondino Viera desejaria a mudança de uniforme por achar que uma camisa branca seria mais adequada ao quente verão carioca, ou, dizem alguns, a partidas noturnas, do que a tradicional camisa preta.
Entretanto, a História registra que a camisa branca com a faixa diagonal preta foi usada pela primeira vez em 16 de janeiro de 1938, numa partida contra o Bonsucesso em São Januário, válida pelo campeonato carioca de 1937. Consequentemente, a participação de Ondino na criação da camisa branca só pode ser mais uma lenda do futebol.
A estreia da camisa branca foi vitoriosa, com certeza. O Vasco derrotou o Bonsucesso por 4x1, gols de Lindo, Niginho(2) e Luna. A equipe vascaína atuou com Rei, Poroto e Zé Luiz (Itália); Rapha, Zarzur e Calocero; Lindo, Alfredo I, Niginho, Feitiço e Luna. O técnico era Floriano Peixoto.
Quanto à afirmação de que a camisa do River Plate teria servido como inspiração para que o Vasco adotasse uma semelhante, não se conhece nenhuma evidência que possa corroborá-la ou refutá-la. Se, por um lado, a agremiação argentina já utilizava sua tradicional camisa branca com faixa diagonal vermelha desde que foi fundada, em 1901, por outro lado, as guarnições de remo do Vasco já vestiam uma camiseta preta com faixa diagonal branca, refletindo o desenho da bandeira oficial, praticamente desde que o clube começou a participar de competições oficiais.
Por outro lado, como se verá a seguir, pode-se dizer que Ondino Viera contribuiu decisivamente para a adoção e a popularização das hoje tradicionais camisas com faixa diagonal - tanto a branca quanto a preta.
Aconteceu que, depois de ser utilizada mais algumas poucas vezes no primeiro semestre de 1938, a camisa branca foi praticamente esquecida, sendo usada muito raramente até a partida do dia 22 de março de 1942, em General Severiano, na disputa com o América pela posse do suntuoso Troféu da Paz, oferecido pela loja "O Camizeiro", finalizando uma melhor-de-três que havia sido iniciada em 1937. O Vasco venceu por 2x1, com gols de Villadoniga, atuando com Walter; Florindo e Osvaldo; Figliola, Zarzur e Dacunto; Alfredo II, Ademir (que fazia a sua estreia), Massinha, Villadoniga e Manuel Rocha. Nessa ocasião, Ondino Viera ainda não era o técnico do Vasco, e sim do Fluminense, para quem o Vasco perderia por 4x1 dois meses mais tarde, novamente em General Severiano e usando a camisa branca.
Após mais um ano de esquecimento, a camisa reapareceu já sob a direção de Ondino, durante Torneio Início de 1943, disputado no Estádio das Laranjeiras no dia 28 de março de 1943. O Vasco escalado com Roberto; Haroldo e Osvaldo; Figliola, Octacílio e Argemiro; Baptista, Lelé, Isaías, Jair e Chico, eliminou o Bangu e o Flamengo, mas foi derrotado pelo Fluminense por 1x0 na semifinal.
A partir dessa ocasião, o Vasco passou a usar a camisa branca com frequência. É concebível que Ondino tivesse uma forte preferência por ela pelos dois motivos alegados: O primeiro, prático, da camisa branca ser mais adequada ao calor e aos jogos noturnos, e o segundo, sentimental, da semelhança com a camisa do River Plate.
Pouco mais de dois meses depois, o Vasco passou a utilizar também a camisa preta com faixa diagonal branca, e a camisa inteiramente preta foi aposentada. Ambas as camisas com faixa diagonal se popularizaram durante a época de hegemonia do Expresso da Vitória, que Ondino ajudou a construir, e tornaram-se parte das tradições vascaínas.
O estádio da Gávea foi inaugurado em 4 de setembro de 1938 com uma partida entre Vasco e Flamengo, pela primeira rodada do campeonato carioca daquele ano. Segundo o jornal A Noite, "as solenidades que precederam o encontro Vasco x Flamengo assumiram aspectos de grande expressão cívico-esportiva. Era intensa a atividade dos fotógrafos no seu trabalho estafante e os olhares da multidão convergiam para o gramado onde os atletas do Flamengo desfilavam com muito garbo". Porém, quando a bola rolou, o Vasco encarregou-se de acabar com o garbo deles e estragar a festa, vencendo inapelavelmente por 2x0. Ambos os tentos foram marcados por Niginho, um em cada tempo. O resultado, inclusive, desencadeou uma crise no clube da Gávea, culminando com a recisão do contrato do técnico Dori Kürschner. Mais uma espinha de bacalhau atravessada na garganta do urubu...
E já que falamos em vitórias do Vasco em plena Gávea, um artigo do site PeleNet revelou o seguinte:
Dos 41 adversários do Flamengo na Gávea, somente Vasco, Atlético-MG, Seleção Carioca, Juventude e o Grasshoppers, da Suíça, levam a melhor sobre o rubro-negro, sendo que houve apenas um jogo contra os três últimos e dois contra o Galo. Contra o time cruzmaltino, em 15 jogos, foram seis vitórias, um empate e oito derrotas.
Como é extremamente improvável que o "estádio" da Gávea, um dos mais acanhados e piores estádios pertencentes a um clube grande, se não o pior, venha a ser novamente palco de mais confrontos entre Vasco e Flamengo, essa espinha de bacalhau tembém ficará eternamente atravessada na garganta do urubu. Ou pelo menos até que eles consigam reverter (no dia de São Nunca) a vantagem que o Vasco possui nos jogos realizados em São Januário, onde até o momento, em 28 partidas, o Vasco venceu 14, empatou 7 e perdeu 7 (dados atualizados em julho de 2017).
Gandula (nome completo: Bernardo Gandulla) foi um jogador argentino que atuou no Vasco em 1939, na posição de meia-esquerda, fazendo ala com outro argentino, o ponta-esquerda Emeal. Era característica do Gandula ir buscar a bola que havia saído de campo e entregá-la ao jogador encarregado de repô-la em jogo - mesmo que este fosse do time adversário. Quando passaram a ser empregados garotos com a função de devolver as bolas para o campo durante as partidas, o público os apelidou com o nome do ex-craque vascaíno.
Até a década de 1940, era comum ver-se na imprensa referências ao time de futebol do Vasco como os camisas pretas. Porém, no campeonato carioca de 1943, o Vasco apresentou uma novidade no seu uniforme: foi acrescentada à camisa preta a faixa diagonal branca. A motivação dessa inovação é desconhecida, mas especula-se que tenha sido por sugestão do técnico Ondino Viera, que, meses antes, tinha resgatado o uso da até então raramente utilizada camisa branca com a faixa diagonal preta. De qualquer forma, desta maneira, o uniforme do futebol ficava idêntico àquele que sempre foi utilizado pelas guarnições de remo vascaínas.
A estreia do novo uniforme deu-se na partida contra o Fluminense, nas Laranjeiras, no dia 13 de junho de 1943, pela primeira rodada do campeonato. O Vasco formou com Roberto; Figliola e Sampaio; Alfredo II, Rodrigo e Argemiro; Djalma, Ademir, Isaías, Nino e Chico.
Lamentavelmente, a arbitragem desastrosa de Mário Vianna tirou todo o brilho da estreia e causou tanta revolta nos vascaínos que, antes do início do segundo tempo, a diretoria do clube decidiu não permitir que seus jogadores disputassem o restante da partida. Segundo reportagem publicada na época pela revista Esporte Ilustrado, o árbitro vinha castigando com um rigor incomum os jogadores vascaínos. Ao fim da primeira etapa, a desvantagem do Vasco já estava em 3 a 0 e um jogador a menos. O primeiro gol tricolor havia sido obtido de uma cobrança de falta enquanto o goleiro Roberto estava fora de sua posição organizando a barreira, e Isaías havia sido injustamente expulso por causa de um esbarrão corriqueiro num adversário. Devido aos acontecimentos dessa partida, o Vasco encaminhou um protesto à Federação Metropolitana, no qual exigia um atestado de sanidade mental como condição para que Mário Vianna continuasse a soprar o seu apito no campeonato.
O goleiro Rodrigues (nome completo: Gabriel Rodrigues), de 30 anos, contratado pelo Vasco em agosto de 1945 do Comercial F.C. de São Paulo, além de ser bom goleiro tinha muita sorte. Ele estreou na quinta rodada do campeonato carioca e realizou doze jogos como titular até o fim do campeonato, em novembro, ajudando o Vasco a conquistar o título invicto. No mês seguinte, de férias em Caxambu, Rodrigues comprou um "gasparinho", como eram chamados os bilhetes da Loteria Federal, e foi premiado com 200 mil cruzeiros, uma fortuna na época. Sem precisar mais do futebol para viver, Rodrigues decidiu pendurar as chuteiras e voltar para São Paulo.
Felizmente para o Vasco, essa decisão abriu caminho para que o então jovem Barbosa assumisse o posto de titular do arco vascaíno e se tornasse um dos maiores goleiros da história do futebol brasileiro.
Em 1946, a contratação de um novo técnico para o time de futebol do Vasco foi um verdadeiro drama. Naquela época, os dirigentes, não sabendo chegar a um consenso para escolher o sucessor de Ondino Viera entre tantos nomes de categoria, lançaram mão de um recurso inédito no futebol: publicaram um anúncio.
O anúncio, que apareceu no dia 6 de julho de 1946, em três colunas e 15 centímetros de altura na imprensa carioca, foi o seguinte:
Club de Regatas Vasco da Gama
Aviso
O Departamento de Futebol Profissional do Club de Regatas Vasco da Gama convida os técnicos de futebol com serviços prestados em clubes das federações paulista e carioca, que desejarem se candidatar a ocupar o lugar de técnico de futebol do referido clube, a se apresentarem até o dia 10 do corrente, às 18 horas, no Departamento Técnico, no estádio de São Januário, munidos de provas de suas habilitações e de documentos de sua idoneidade moral e profissional, mediante contrato nas seguintes bases:
a) prazo do contrato: 15 de julho de 1946 a 31 de dezembro de 1947;
b) luvas de Cr$ 45.000,00;
c) ordenado de Cr$ 3.000,00;
d) prêmios por vitórias ou empates iguais aos estabelecidos para os jogadores, nas divisões principal, imediata e aspirantes;
e) prêmio de Cr$ 20.000,00 pela conquista do Campeonato da Divisão Principal.
O Club de Regatas Vasco da Gama se reserva o direito, não só de não aproveitar qualquer dos pretendentes, mas ainda o de escolher livremente entre os candidatos aquele que, a seu exclusivo juízo, for considerado o mais indicado.
Não é preciso nem dizer que houve fila de candidatos, pois trabalhar no Vasco era, como ainda é, o sonho de muitos técnicos e jogadores. Para dar uma prova do interesse despertado, vale recordar um exemplo apenas: o treinador Adhemar Pimenta, querendo candidatar-se, chegou a pedir à CBD prova de eficiência técnica, por ter dirigido a Seleção Brasileira na Copa de 1938, e com esse documento impressionar os julgadores. Entretanto, um grupo de dirigentes acreditou encontrar uma boa solução para o clube: esqueceu o concurso e contratou o Professor Ernesto Santos, pensando que assim levaria para São Januário o melhor técnico do Brasil.
Mas como o Vasco terminou o campeonato de 1946 amargando um quinto lugar, Ernesto Santos foi dispensado, um ano antes do vencimento do contrato.
Na revista O Cruzeiro de 19 de novembro de 1966 (pp. 117-118), João Saldanha relata o caso, segundo ele, "pitoresco" (do ponto de vista alvinegro, é claro), acontecido no Campeonato Carioca de 1948, quando o Botafogo foi campeão:
- Essa ficou comprovada. Foi uma história de "doping" negativo. O Botafogo precisava alijar o Vasco do campeonato, mas antes jogava com o Flamengo. Arquitetaram um plano, em General Severiano, com o rubro-negro como "cobaia". A turma botafoguense sabia que os flamenguistas tomavam chá, no intervalo do jogo. E foi nele que agiu. No dia da partida, bem na porta do vestiário do Flamengo, havia um guarda. Cada jogador que entrava recebia um cumprimento amigável, de autêntico rubro-negro: "- Bola pra frente, moçada". Na verdade era um fanático alvinegro, ali com uma finalidade: vigiar a entrada. Pouco depois que o jogo começou, através de uma porta falsa (estavam no campo do Botafogo), que dava para o vestiário dos escoteiros, entrou o dopador. Pegou a enorme garrafa térmica, que continha o chá do time do Flamengo, passou a pura bebida para outra vasilha, e substituiu-a por outra, com o barbitúrico. E caiu fora. A rubro-negrada voltou, cheia de sede, e engoliu o chá. Vinham eufóricos, pois o Flamengo vencia por 3 a 1 o primeiro tempo. Voltaram a campo meio sonolentos e entraram bem: Botafogo 5 a 3. Enquanto isso, o mesmo sujeito, encarregado do "doping" (neste caso negativo, é lógico), penetrava novamente no vestiário, levava a garrafa e devolvia a ela em igual quantidade o imaculado chá retirado antes. Se fizessem algum exame, nada encontrariam naquela bebida. E tudo com a vigilância eficaz do guarda "rubro-negro". Depois a turma da Gávea ficou um pouco desconfiada mas, como o time estava fora do páreo, não deu bola para o caso. No domingo seguinte o Botafogo jogava com o Vasco. E a coisa foi repetida, baseada no sucesso da experiência anterior. Só que, dessa vez, o Vasco levou café, e foi essa a bebida substituida. E o guarda, como é natural, agora era "vascaíno" doente. Aconteceu até um fato curioso: um diretor do Vasco, de nome Armando, muito amigo, na época, do Ademir, tomou um pouco do café com barbitúrico. Passou o segundo tempo dormindo, na arquibancada, enquanto o jogo se desenrolava lá embaixo. O Botafogo ganhou por 3 a 1. Na verdade, no primeiro tempo, já vencia por 2 a 0. O dopador botafoguense, porém, não foi muito na conversa do marcador, e preferiu garantir o resultado final. A turma do Vasco desconfiou e mandou examinar a cafeteira. Como é natural, nada encontrou que provasse o "doping". Chegaram até a prender o cozinheiro cruzmaltino, certos de que ele colocara algo na comida. Mais tarde souberam o que acontecera, mas aí não adiantava mais estrilar.
O Expresso da Vitória, o maior time da história do Vasco, que dominou o futebol carioca de 1945 a 1952, não devia o seu sucesso apenas à qualidade técnica excepcional dos seus jogadores. Havia uma sólida união e liderança, que era exercida sem alarde pela Turma do Caroço. O grupo, liderado pelo capitão do time Augusto, foi criado no final de 1948 e se reunia toda terça-feira na casa do técnico Flávio Costa. Os encontros fortaleciam a união dos integrantes. Erros de qualquer um eram cobrados sem inibição. Brigas entre jogadores, falta de garra ou salto alto não eram aceitos. Dava-se valor à amizade e à disciplina. E nas comemorações de cada vitória alcançada nos fins de semana não podia faltar uma cervejinha.
Decisões importantes eram tomadas pela turma. Por exemplo, a contratação de Heleno de Freitas, que estava no Boca Juniors, foi aprovada numa das reuniões. Heleno era um gênio da bola mas uma pessoa nervosa, de relacionamento difícil e problemas disciplinares. Segundo Ademir Menezes, o grupo não aceitava os xingamentos de Heleno quando alguém não lhe dava uma bola no pé. Flávio Costa, persistente, sempre pedia paciência com o craque Heleno, até o dia em que este puxou uma arma e a apontou para o técnico, depois de um treino em São Januário. A arma estava descarregada, mas logo que terminou o campeonato carioca de 1949, que o Vasco conquistou invicto, a Turma do Caroço decidiu pela saída de Heleno. Muitos anos mais tarde, Ademir chegou a declarar textualmente:
"Devemos aquele título de 49 à Turma do Caroço." (O Globo 1/11/92).
O lado do anel da arquibancada do Maracanã localizado à direita da tribuna é o reduto da torcida cruzmaltina. Segundo um depoimento da famosa torcedora Tia Aída (falecida em 2010), uma das fundadoras da Torcida Organizada do Vasco, ao Jornal do Casaca em 2005 (transcrição na Netvasco, 23/1/2005), esta tradição teve início no primeiro clássico que o Vasco disputou no estádio, em 1950.
A escolha deu sorte, pois o Vasco venceu o rival por 2 a 1 e, naquele ano, acabaria sendo o campeão carioca, o primeiro do Maracanã. Por esse motivo foi feito um acordo, dando aos vascaínos o direito de ocupar permanentemente aquele lado. Desde então, ali fica a torcida, não importando qual seja o adversário.
Coube ao Vasco a distinção de realizar o primeiro jogo internacional entre clubes no Maracanã. Esse confronto, ocorrido no dia 22 de abril de 1951, teve um significado especial, pois o adversário foi o Peñarol, base da seleção uruguaia que havia vencido a Copa do Mundo em 16 de julho do ano anterior, em pleno Maracanã. O Vasco era o bicampeão carioca de 1949 e 1950 e, como se sabe, a base da seleção brasileira que havia sido derrotada pelos uruguaios.
O interesse pelo confronto entre os dois clubes era natural, e foram então organizadas duas partidas amistosas, a primeira em 8 de abril de 1951, no Estádio Centenário, em Montevidéu, e a segunda uma semana depois, no Maracanã. No mesmo mês, deveria acontecer também um confronto entre o clube uruguaio e o Palmeiras, campeão paulista de 1950, mas apenas um jogo aconteceu, no Pacaembu, que terminou empatado em 0x0, e o segundo jogo, que seria em Montevidéu, acabou sendo cancelado.
Na capital uruguaia, o Vasco venceu categóricamente por 3x0, o que deu um caráter de revanche ao segundo jogo. Devido ao forte temporal que se abateu sobre o Rio naquele final de semana, o jogo teve que ser adiado para o domingo seguinte, aumentando a expectativa. Finalmente, no dia 22 de abril, o Maracanã pode ter o seu primeiro jogo internacional entre clubes e o Vasco venceu novamente, desta vez por 2x0, com gols de Friaça e Ademir, deixando as mais de 93 mil pessoas presentes e o torcedor brasileiro, em geral, de alma lavada. E o placar de Montevidéu só não foi repetido porque o bandeirinha uruguaio Esteban Marino assinalou um impedimento inexistente no que seria um golaço de Ademir, a três minutos do fim da partida.
Hoje em dia existem muitas torcidas organizadas vascaínas, mas até o final dos anos 60 havia apenas uma facção, a Torcida Organizada, cujo primeiro chefe chamava-se João de Luca. Em 1956, problemas de saúde não o permitiram continuar, e ele foi então sucedido pela lendária Dulce Rosalina, a primeira mulher a chefiar uma torcida no Rio de Janeiro. Nos anos 50, também tornou-se célebre o torcedor Ramalho, que soprava um longo talo de mamão como uma corneta, para animar a torcida durante os jogos.
Em 1970, apareceu a Força Jovem, fundada num casarão da Rua Cônego Tobias, no bairro do Méier. A primeira faixa estendida nos estádios pela torcida dizia VASCO, O MÉIER TE SAÚDA. Inicialmente (1970 e 71) a FJ foi chefiada por Manoel, depois por Melo e, posteriormente, quando ganhou projeção, por Eli Mendes. Desde então, inúmeras torcidas organizadas têm sido criadas.
Esta frase foi dita por Mirim, que jogou no Vasco de 1953 a 1955, num momento de rara inspiração, após uma grande vitória. A frase passou a fazer parte da memória coletiva dos vascaínos e, na década de 1960, foi colocada numa faixa preta com letras brancas que a Torcida Organizada, chefiada por Dulce Rosalina, pendurava na grade da arquibancada no Maracanã.
Não foi à toa que Nílton Santos falou em uma entrevista quando parou de jogar futebol: "Nós tínhamos um timaço, mas contra o Vasco não havia jeito. Podiam entrar com onze cabos de vassoura em campo vestidos com a camisa do Vasco que nós não ganhávamos".
A frustração do grande lateral alvinegro levou-o a cometer o exagero dessa metáfora. Porém o fato que ela encerra não é nenhum exagero: Vasco x Botafogo é a maior freguesia dos clássicos cariocas. Mesmo quando o Botafogo teve o seu melhor time, com seus decantados craques como Garrincha, Nílton Santos, Didi, Quarentinha e outros, continuou freguês do Vasco.
Examinemos, por exemplo, a participação de Garrincha, considerado o segundo maior jogador de todos os tempos depois de Pelé, ou, na opinião de alguns, o maior de todos, melhor até que o Rei:
Foram 37 partidas entre Vasco e Botafogo com Garrincha em campo, de 1953 a 1965. O Vasco ganhou 20 partidas, empatou 7 e perdeu 10. A primeira foi realizada em 22 de agosto de 1953, com a vitória do Vasco por 4x1. A última foi a decisão da primeira Taça Guanabara, em 5 de setembro de 1965, que Vasco venceu por 2x0.
Depois que Garrincha deixou o Botafogo, continuou levando desvantagem nos confrontos contra o Vasco. No Corínthians, Garrincha jogou apenas uma partida contra o Vasco, em 1966, com a vitória cruzmaltina por 3x0. No Flamengo também uma partida, em 1968, com a vitória vascaína por 2x0.
Conclusão: o Anjo de Pernas Tortas durante sua carreira foi um grande freguês do Vasco.
Em agosto de 1957, o presidente do Vasco, Arthur Pires, tentou realizar uma contratação que certamente teria mudado a história do futebol se tivesse sido concretizada. O presidente comunicou ao Santos o interesse do Vasco em adquirir os passes de Pelé e Del Vecchio. Pelé estava na época com 16 para 17 anos e havia despertado a cobiça do Vasco desde que havia mostrado o seu talento imensamente promissor jogando pelo combinado Vasco-Santos, montado para a disputa do Torneio Internacional do Morumbi em junho do mesmo ano, e estreado pela Seleção Brasileira no mês seguinte.
Já Del Vecchio era, sem dúvida, um bom jogador, de nível de seleção, que inclusive também tinha atuado na mesma partida da estreia de Pelé na Seleção, a derrota por 2x1 para a Argentina no Maracanã.
A notícia sobre o interesse do Vasco na contratação dos dois jogadores santistas foi manchete do Jornal dos Sports de 28 de agosto de 1957 e não deve ter agradado ao Santos, que imediatamente contra-atacou fazendo uma proposta para a contratação do ídolo vascaíno Bellini. Segundo a manchete do Jornal dos Sports do dia seguinte, o Vasco retrucou que Bellini não tinha preço e as negociações se encerraram por ali.
Com o passar do tempo, foram criadas várias versões fantasiosas a respeito da não contratação de Pelé pelo Vasco. Numa das versões mais difundidas, o Santos teria oferecido Pelé ao Vasco quando o craque ainda era um menino desconhecido, porém o Vasco teria recusado, respondendo que, na realidade, dentre os jogadores do elenco santista, estaria mais interessado no Del Vecchio, não "nesse tal de Pelé". Numa versão dessa lenda, a recusa teria partido diretamente do vice-presidente de futebol da época, Antônio Soares Calçada.
O mais famoso ponto de encontro dos torcedores que vão ao Maracanã é uma estátua de bronze, em frente à rampa da Avenida Maracanã. representando um jogador simbólico erguendo a Taça Jules Rimet. Confeccionada pelo artista plástico Matheus Fernandes e erigida no dia 13 de novembro de 1960, para homenagear os campeões mundiais de 1958, a estátua reproduz o imponente gesto imortalizado por Bellini, até hoje imitado pelos capitães das seleções campeãs das Copas. O rosto da estátua não apresenta a menor semelhança com o capitão da seleção campeã do mundo de 1958 - ao contrário, dizem que ela se parece com o antigo cantor popular Francisco Alves. Apesar disso, a estátua foi logo batizada de Bellini pelo torcedor carioca. Bellini era também o capitão da equipe do Vasco e um jogador fortemente identificado com a camisa cruzmaltina. No entanto, não importando para qual clube torcem, muitos frequentadores do Maracanã costumam marcar encontro "no Bellini".
Quem já ouviu o hino A Portuguesa, proclamado em 1911 como Hino Nacional de Portugal, há de ter notado que a melodia dos seus versos iniciais (Heróis do mar, nobre Povo/Nação valente, imortal) tem bastante semelhança com a introdução instrumental do Hino do Vasco. Como o primeiro é mais antigo, pode-se deduzir que nele o compositor Lamartine Babo foi buscar inspiração para a melodia de introdução do hino que compôs para o Vasco no final da década de 1940.
E para quem ainda não ouviu ou gostaria de conhecer mais sobre A Portuguesa: Na página oficial da Presidência da República Portuguesa encontra-se a gravação em formato mp3, a partitura, a letra completa e seus antecedentes históricos.
Ao longo de sua história, vários apelidos para o Vasco estiveram em voga.
Nas décadas de 1920 e 1930, a imprensa comumente referia-se ao onze vascaíno como os Camisas Pretas, pois naquela época assim era o uniforme do time de futebol, ainda sem a faixa diagonal branca que sempre foi usada pelas guarnições de remo e que só seria adotada no início da década de 1940.
O apelido de Gigante da Colina, que até hoje é usado, surgiu devido ao estádio de São Januário estar localizado numa região topograficamente elevada. Todavia, há quem conteste que São Januário fique numa colina, preferindo atribuir a denominação a um equívoco geográfico, pois existia um Morro de São Januário (já demolido), mas que ficava no centro da cidade, bem longe, portanto, da Rua São Januário, a principal via de acesso ao estádio. Aliás, por algum tempo, até quase o fim da década de 1930, o estádio, cujo nome oficial sempre foi Estádio Vasco da Gama, era frequentemente chamado de Campo da Rua Abílio, que naquela época era como se chamava a Avenida Roberto Dinamite (antiga rua General Almério de Moura), onde fica a bela fachada principal e a entrada social.
O famoso epíteto Expresso da Vitória surgiu em 1945, quando o Vasco, com uma equipe fortíssima, conquistou o campeonato carioca de maneira invicta. O Expresso dominaria o futebol carioca por anos a fio, até 1952. Muitas vezes, o Vasco partia em longas excursões e deixava uma equipe mista, ou de reservas, apelidada de Expressinho, disputando torneios no Rio, ou realizando outros amistosos de menor expressão.
Na década de 1940, o caricaturista argentino Lorenzo Molas, que trabalhava para o Jornal dos Sports, foi encarregado de criar charges (mascotes) dos clubes cariocas. Molas, que por sinal era torcedor vascaíno, desenhou um almirante português para simbolizar o Vasco. Assim, o Vasco passou também a ser chamado de Almirante, denominação que era muito popular nos anos 50.
Durante o Torneio Roberto Gomes Pedrosa de 1968, o Vasco fazia uma boa campanha e veio a se tornar o único clube carioca com chance de se classificar entre os 4 finalistas (o que efetivamente acabou acontecendo). O Jornal dos Sports, tentando unir a torcida carioca em torno do Vasco como o seu representante na competição, passou carinhosamente a se referir à equipe como Vasquinho - um time que, apesar de não contar com nenhuma super-estrela, era simpático e intrépido. Porém alastrava-se no país o modismo de se empregar aumentativos para tudo, desde obras faraônicas do governo, como estádios (Mineirão) e viadutos (Minhocão), até times de futebol, e o Vasco não escapou à regra, vindo a receber o apelido de Vascão em 1970, ano em que reconquistou o título carioca depois de um longo jejum.
Ainda durante a década de 1960, as torcidas adversárias, com intenções pejorativas, inventaram o apelido de Bacalhau. O apelido foi aproveitado pelo cartunista Henfil, cujos quadrinhos na época apareciam diáriamente na página 2 do Jornal dos Sports, para batizar o seu personagem que representava um torcedor do Vasco, um português careca e bigodudo. A torcida cruzmaltina acabou por adotar o apelido com muito orgulho, e o aplica àqueles que encarnam o genuíno espírito vascaíno, como o craque Edmundo, que por ocasião do seu regresso ao Vasco em 1996, de Animal foi promovido a Bacalhau.
Durante o campeonato de 1975, especialmente no terceiro turno, o Vasco venceu várias partidas de virada, de maneira avassaladora. Surgiu então a expressão Vascão Vira-Vira, que até hoje é revivida a cada virada heroica.
O termo Machão da Gama foi criado em 1977 pelo locutor esportivo José Carlos Araújo, que acabava de assumir a chefia de esportes da Radio Nacional. Naquele ano, o Vasco formou um grande time que sagrou-se campeão estadual exibindo um futebol de alta qualidade, porém sem deixar de lado a garra e a valentia. Entretanto, a noção de que o Vasco era um time de machos já vinha pelo menos desde 1974, como demonstra a manchete que o Jornal dos Sports estampou em letras garrafais, celebrando a vitória sobre o Cruzeiro na final do Campeonato Brasileiro: VASCO MACHÃO, UAI!
O ponta Orlando (Orlando Rosa Pinto) militou no Vasco de 1932 a 1943, quando pendurou as chuteiras. No mesmo ano, o Vasco comprou do Madureira o passe do seu irmão Jair, o grande Jair Rosa Pinto. Os dois chegaram a jogar juntos, formando a ala esquerda da equipe durante o Torneio Municipal de 1943.
Jair jogou no Vasco até 1946. Em 1956, o seu sobrinho Roberto Pinto, das divisões de base do Vasco, começou a ser aproveitado no time titular. Ele ficou no Vasco até 1961, e fez o gol do super-supercampeonato de 1958, na decisão contra o Flamengo (1x1).
Outro Orlando, conhecido no futebol pelo seu sobrenome, Fantoni, foi centroavante do Vasco em 1938-40, quase ao mesmo tempo que seu irmão Niginho (Leonídio Fantoni). Niginho foi também centroavante vascaíno em 1937-39, tendo inclusive sido o artilheiro do campeonato carioca logo no seu primeiro ano com a camisa cruzmaltina. Os sobrinhos de Orlando e Niginho, Fernando (Fernando Fantoni) e Benito (Benito Romano Fantoni), zagueiros, tiveram uma passagem no Vasco em 1954-55, mas nunca chegaram a ser titulares. Orlando Fantoni foi ainda técnico do Vasco em 1977-78 e 1980 e, por sua maneira quase carinhosa de tratar os jogadores, era chamado de "titio".
Cunha era o apelido de Mílton Izídio Neto, irmão mais jovem do ídolo vascaíno e bicampeão mundial Vavá (Edwaldo Izídio Neto), que jogou no Vasco de 1952 a 1958. Cunha, também centroavante como o irmão famoso, chegou a ser campeão de aspirantes pelo Vasco em 1960, aos 19 anos, mas no ano seguinte foi jogar no México.
O pernambuquinho Almir (Almir Moraes de Albuquerque), ídolo do Vasco entre 1957 e 1960, era irmão mais velho do ponta-de-lança Adílson (Adílson Moraes de Albuquerque), que começou nas divisões de base do Vasco, passou pelos aspirantes e jogou no time principal de 1967 a 1971.
Mário (Amaro Gomes da Costa), atacante do Vasco em 1963-65, era também conhecido pelo apelido de Tilico. Seu filho, Mário Tilico (Mário de Oliveira Costa), começou nas divisões de base do Vasco e chegou a ser lançado no time principal em 1985, quando teve seu passe negociado.
Wilson Moreira, atacante do Vasco em 1957-61, era filho do consagrado técnico Zezé Moreira (Alfredo Moreira Jr.), que dirigiu o Vasco em 1965-66.
Jardel (Mário Jardel Almeida Ribério), que havia sido artilheiro nos juniores do Vasco, entrou para a história como o autor dos dois gols da decisão do título do tricampeonato carioca de 1994. Seu irmão mais novo George começou seguindo a mesma trajetória na equipe de juniores, mas não foi aprovado ao ser promovido ao time principal em 1997.
Léo Lima (Leonardo Lima da Silva), campeão carioca em 2003 pelo Vasco e campeão sul-americano e mundial sub-17 com a seleção brasileira em 1999, é bisneto do ex-atacante Isaías (Isaías Benedito da Silva), campeão invicto pelo Vasco em 1945. A exemplo do seu bisavô, Léo também era jogador do Madureira antes de se transferir para São Januário. Na final do campeonato carioca de 2003, contra o Fluminense, ele executou um genial cruzamento de letra que originou o gol que sacramentou o título, marcado por Sousa. Por coincidência, Isaías havia marcado um famoso gol de letra sobre o mesmo Fluminense em 1941, ainda jogando pelo Madureira.
O atacante César, atacante habilidoso que fez uma excelente dupla com Roberto Dinamite em 1981, é pai do lateral esquerdo Júlio César, que defendeu o Vasco de 2015 a 2016.
O primeiro caso de doping comprovado no futebol brasileiro ocorreu na partida Atlético-MG 2x1 Vasco, realizada no Mineirão em 18 de novembro de 1973. O Vasco virou o primeiro tempo vencendo com um gol de Dé. No segundo tempo, o jogador atleticano Campos voltou irresistível e marcou dois gols, virando o jogo. Jogadores do Vasco acharam estranha a baba espumada que escapava da boca de Campos. Mais tarde foi constatada a presença do estimulante efedrina na urina do atleta. Foi noticiado que o material coletado apresentava uma cor avermelhada que já havia chamado a atenção mesmo antes do exame. Campos tentou se justificar declarando à imprensa que tinha bebido um suco de beterraba no dia do jogo, mas não colou: Ele pegou uma longa suspensão, a primeira acontecida no futebol brasileiro devido a uso de substância proibida. Mas o resultado do jogo continuou valendo.
Campos ficou marcado pelo episódio. Passou a ser conhecido pelo país afora como Campos "Beterraba" e cada vez que entrava em campo era saudado pelas torcidas adversárias com gritos de "chincheiro".
O ex-presidente da FIFA e da CBD (atual CBF), João Havelange, já foi homenageado com vários torneios levando o seu nome. Por coincidência, o Vasco conquistou todos os que teve a oportunidade de participar.
O primeiro foi um quadrangular disputado em Governador Valadares (MG) em 1981, onde o Vasco venceu o clube anfitrião Democrata por 3x2 e, na final, o eterno rival Flamengo por 1x0.
O segundo torneio com o nome João Havelange conquistado pelo Vasco foi também um quadrangular, em 1993, disputado em partidas de ida-e-volta. O torneio reuniria os campeões estaduais do Rio e São Paulo, do Torneio Rio-São Paulo e do Torneio Ricardo Teixeira (uma segunda divisão do Rio-São Paulo). Como o Palmeiras foi o campeão paulista e do Rio-São Paulo, o Corinthians, vice-campeão paulista e do Rio-São Paulo, juntou-se a Vasco, Palmeiras e Mogi Mirim. Primeiro, o Vasco venceu o Palmeiras por 3x0 em casa e empatou por 1x1 no jogo de volta. A decisão foi contra o Mogi Mirim e o Vasco teve que escalar um time de reservas, pois o titular estava embarcando para a Europa a fim de disputar torneios amistosos. Na primeira partida da decisão, em casa, o Vasco venceu por 4x0. Na partida de volta, o Mogi Mirim devolveu o placar e o título teve que ser decidido na disputa de pênaltis. Nessa disputa, o Vasco desperdiçou as duas primeiras cobranças e chegou a estar perdendo de 3 a 0. Aí brilhou o goleiro Caetano, que além de defender dois pênaltis converteu um. O Vasco começou a acertar todos os pênaltis até a vitória por 4x3.
Finalmente, em 2000, devido ao fato de que a CBF ficou impedida de organizar o Campeonato Brasileiro devido a problemas judiciais e mandatos de segurança por parte de clubes rebaixados no ano anterior, os clubes realizaram no seu lugar a Copa João Havelange, mais tarde homologada pela CBF como o Campeonato Brasileiro daquele ano. Esse foi o quarto título brasileiro conquistado pelo Vasco, que superou o São Caetano nas partidas da decisão com um empate de 1x1 na casa do adversário e uma vitória por 3x1 no Maracanã.
Apesar disso, evidentemente não se pode dizer que o Vasco é tri-campeão do João Havelange.
Os jogadores do Vasco entravam em campo no estádio de Moça Bonita para enfrentar o Bangu, em mais um compromisso válido pelo campeonato estadual de 1979. De repente, o goleiro Leão deu meia volta e saiu em disparada para o vestiário, se coçando todo, seguido por Roberto Dinamite, Guina e outros, também com uma coceira danada. Alguém tinha jogado pó-de-mico nos craques vascaínos. O autor do atentado, visto correndo com uma caixa de sapato, foi detido por policiais, que encontraram pó-de-mico dentro da caixa. Identificado como Édson Izidoro, discotecário do clube alvi-rubro, ele foi preso e autuado por perturbar a ordem. Vinte anos mais tarde, Édson, agora enfermeiro do Hospital Salgado Filho, foi preso novamente, desta vez pelo assassinato de pacientes em estado grave, no escandalo da máfia das agências funerárias. Roberto Dinamite, agora deputado estadual, declarou ao jornal O Globo: "Quando ele (Édson) aparecia na televisão eu sempre me lembrava de alguém da época do futebol. Só não imaginava que fosse o cara que deu aquela coceira braba na gente". A partida foi em 20/5/1979 e o Vasco venceu por 3x0, não obstante o pó-de-mico.
Na época em que Antônio Soares Calçada era presidente do Vasco (1983-2000), a imprensa gostava de mencionar que ele era sócio do Flamengo e que costumava comparecer à Gávea para votar, sempre que havia eleições. Porém, a história de como o atual presidente do Vasco havia se tornado sócio raramente era divulgada. Segundo o próprio Calçada contou num programa de TV, o título de sócio proprietário fora recebido como pagamento de uma dívida por parte do seu amigo Gilberto Cardoso, na época presidente do Flamengo. Gilberto Cardoso, considerado pelos rubronegros como um de seus maiores presidentes de todos os tempos, devia dinheiro a uma pensão, e Calçada gentilmente se ofereceu para pagar a dívida, recebendo em troca, em sinal de gratidão, o título de sócio. Desde então, até tornar-se presidente do Vasco, Calçada nunca deixava de comparecer a Gávea apenas no dia de eleições, a cada dois anos, para votar no pior candidato, é claro.
Muitos gols antológicos já foram marcados no Estádio de São Januário. O gol de autoria do atacante Vivinho, no dia 11 de setembro de 1988, quando o Vasco venceu a Portuguesa-SP por 4 a 2, talvez tenha sido o mais bonito de todos. Tanto que teve o privilégio de ser homenageado por uma placa de bronze no estádio.
O jogo foi realizado pela primeira fase do Campeonato Brasileiro (que tinha, na época, o nome de Copa União). O primeiro tempo havia terminado com o placar de 1 a 0 para a Portuguesa. Mas logo no primeiro minuto do segundo tempo, o lateral esquerdo Mazinho fez um lançamento preciso para Vivinho, que vinha entrando na área pela direita. Vivinho matou a bola no peito e, com o pé direito, aplicou um lençol em Capitão, que chegava para marcá-lo. A bola quicou uma vez e, quando Capitão virou-se para tentar impedir um esperado chute a gol, Vivinho aplicou-lhe outro lençol com o mesmo pé no sentido inverso, deixou quicar, chapelou novamente para dentro e, sem deixar a bola tocar no solo, arrematou de canhota, pelo alto, à direita do goleiro Waldir Peres. Mais que um golaço, foi literalmente um gol de placa.
Essa placa, que eternizou o "Gol dos Três Lençois", esteve exposta no saguão da entrada principal de São Januário durante muitos anos, mas depois foi retirada e atualmente se encontra guardada no Centro de Memória do clube.
Em 1998, ano do centenário do Vasco, no dia 8 de setembro, a Lei 2672/98 da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, cujo Projeto de Lei 425/97 foi apresentado pelo vereador Áureo Ameno, transformou a área onde fica São Januário e adjacências num novo bairro carioca. A região, que até então fazia parte do bairro de São Cristóvão (VII região administrativa), passou a se chamar Vasco da Gama. A homenagem, além de justa, faz muito sentido na prática, pois o clube, com seu estádio e sede principal, é há muito tempo a referência para as pessoas que vão à região. O projeto, que tramitava há praticamente um ano, foi sancionado em lei pouco mais de uma semana depois de o Vasco conquistar o título da Copa Libertadores em Guayaquil, Equador, vencendo o Barcelona local. A grande maioria de moradores do bairro é vascaína e vibrou com a mudança, para desespero dos moradores não vascaínos.
O estádio Vasco da Gama, conhecido como São Januário e inaugurado em 21 de abril de 1927, além de histórico, é um dos mais charmosos do mundo. As características originais de sua arquitetura encontram-se bem conservadas. O Projeto de Lei 1563/96 da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, apresentado pelo vereador Ivan Moreira em 29 de maio de 1996, tombou o estádio e seu complexo esportivo e social, por seu valor histórico, cultural, esportivo e social.
Sua fachada, em estilo neocolonial, se encontra em processo de tombamento pelo INEPAC (Instituto Estadual do Patrimônio Cultural do Rio), o órgão estadual que tem a missão de preservar o patrimônio cultural do Rio de Janeiro. É noticiado com uma certa frequência que a fachada teria sido tombada pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) (informação a ser confirmada, pois não foi encontrada no site do IPHAN).
Em 2002, uma pesquisa do Travel Channel, famoso canal de televisão especializado em turismo, incluiu São Januário entre os melhores estádios do mundo para se assistir uma partida de futebol. Foram escolhidos somente sete estádios, dos quais cinco são europeus e dois sul-americanos. Na América do Sul, além do Vasco, apenas o Boca Juniors teve o privilégio de ter seu estádio, o famoso La Bombonera, selecionado na pesquisa.
Em 30 de abril de 2008, São Januário foi eleito a Primeira Maravilha da Zona Norte, ao vencer a votação popular promovida pelo site 7 Maravilhas da Zona Norte (já desativado; leia a notícia completa no Netvasco). Foram enviados cerca de 130 mil votos, dos quais 37 mil (mais de 28%) foram para o Caldeirão da Colina. Este evento foi uma iniciativa do bibliotecário Evando dos Santos e contou com um amplo apoio e divulgação dos veículos de comunicação. Vale ressaltar que São Januário superou, inclusive, o Maracanã (Estádio Mário Filho), que ficou em terceiro lugar na votação.
Em maio de 2010, São Januário foi incluído no roteiro do Turismo Cultural no Bairro Imperial, ao lado de outros pontos significativos do bairro, como o Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST), Museu Nacional (MN/UFRJ), o Museu Militar Conde de Linhares (MMCL), o Museu do Primeiro Reinado/Casa da Marquesa de Santos e o Centro Cultural Maçônico/Supremo Conselho. O evento foi organizado pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).
O Consórcio Maracanã Entretenimento S.A. prefere que o estádio seja chamado de "novo Maracanã". Este site prefere chamá-lo de Arena Padrão Fifa, ou qualquer outro nome. O saudoso Maracanã, Estádio Mário Filho, apelidado de O Maior do Mundo, que chegou a receber públicos de cerca de 200 mil, era o que existia antes no mesmo local, até ser demolido em 2010. Patrimônio público, feito para acomodar torcedores de todas as classes econômicas e utilizado por todos os grandes clubes cariocas em condições de igualdade. No seu lugar, o estado ergueu a arena, cuja capacidade de 78 mil não chega a estar nem entre as dez maiores do mundo, e cedeu os direitos de exploração comercial à gestão privada, por apenas 16% do custo da obra.
Depois da inauguração da arena com um amistoso festivo e da realização de um amistoso da seleção e três partidas da Copa das Confederações, foi marcado o clássico entre Vasco e Fluminense para o dia 21 de julho de 2013. Quem compareceu ou assistiu pelo pay-per-view, se deparou com um cenário irreconhecível do lado de dentro do estádio. No espaço descaracterizado e praticamente indistinguível de vários outros estádios "padrão Fifa" pelo mundo afora, as respectivas torcidas se encontravam em lados opostos aos tradicionalmente ocupados nos 224 clássicos disputados entre ambos os clubes no Maracanã, ao longo de 60 anos. Pela primeira vez, os vascaínos se encontravam impedidos de ficar no seu reduto, o lado direito da tribuna.
O que não chegou a ser uma surpresa, pois durante a semana do clássico essa polêmica havia recebido muito destaque. Além disso, todo vascaíno sabe que o freguês das Laranjeiras nutre um intenso sentimento de cobiça por tudo aquilo que pertença ao Vasco. O clube do plano de saúde, que pela tabela do campeonato brasileiro tinha o mando de campo, decidiu mandar às favas a história e as tradições acumuladas durante seis décadas e impôs a inversão de lado das torcidas, respaldando-se no seu contrato de parceria com o Consórcio, assinado na semana anterior. O seu presidente, para justificar a prepotência, argumentou que "o futebol mudou". De fato, mudou, poderosa, mas nem tanto. Afinal, havia um destino a ser cumprido: Dentro das quatro linhas, quem mandou foi o Vasco.
Mais uma vez confirmando o seu destino pioneiro, desbravador e vencedor, o Vasco tornou-se o primeiro clube a vencer e a marcar um gol no novo estádio. Esse feito histórico também serviu como presente de aniversário para os derrotados, que justamente naquele dia festejavam 111 anos de fundação. O placar foi de 3 a 1 e o autor do primeiro gol foi Juninho, aos 16 minutos do primeiro tempo. Por justiça poética, feito na baliza situada no lado usurpado. Na comemoração, ele ainda mandou recado para os usurpadores: "Esse lado aqui é nosso". Depois, em entrevista no intervalo, explicou: "O Vasco foi o primeiro campeão do Maracanã e devia estar desse lado". O Reizinho da Colina, maior ídolo vascaíno em atividade, e que fazia a sua reestreia, cumpriu uma atuação de gala. Além de marcar o primeiro gol, deu um passe magistral para André fazer o segundo, a um minuto do segundo tempo. O adversário diminuiu a diferença, mas Tenório, de cabeça, aos 38 minutos, consolidou a vitória.
Como estava escrito no mimoso mosaico exibido pelos tricolores antes do jogo: É O DESTINO.